A marca principal destes poemas é a leveza. Aliada a isto, temos a simplicidade de versos econômicos, o que remete a Bashô e Bandeira, citados no livro. Mas a leveza e a simplicidade não dispensam a representação poética da violência, quando Carrano aborda problemas sócio-políticos, o que lhe dá momentos de urgência histórica. Por outro lado, ao longo dos poemas, encontramos a indagação e exploração dos limites da linguagem, com um lirismo, digamos, amargo. Os poemas, em várias páginas, são quase grafismos a atingir o minimal poet. Carrano mostra-se obsessivo com a economia da fala em composições de visualidade tátil, explorando o espaço em branco que tensiona o que é dito. Ao longo das páginas a voz do poeta é coesa, nunca abandonando o projeto de ser sintético, lembrando o trabalho de João Cabral. Com seu rigor, Carrano atinge uma voz de sentido eminentemente crítico com afã de participação e intervenção nos dramas sociais por todos nós vivenciados. Isto não o impede de profundos mergulhos na subjetividade, quando aparece o ser vivendo entre o estar no mundo e a posse real de si mesmo. Por estas vias, ele alcança um pungente lirismo, sem grandiloquência, mas de leveza que conforma sua lucidez crítica e seus movimentos de intensa poeticidade a destacá-lo com um acento de extrema originalidade.
Paulo Venturelli
Primavera/24
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