A estreia desta jovem poeta traz um título desconcertante à primeira vista. O desconcerto nasce de contradições cifradas nas duas alternativas: enamorar-se é perder os limites, e o clássico exige as medidas; Fausto é figura lendária e trágica, agora caída no chão do cotidiano. Esse dilema atravessa os séculos para se atualizar, sem diluir as antíteses, no retrato da poeta: Giancarla se revela amante da mitologia e da lírica e, em deslizes sensíveis, risca novos versos. Um reflexo a um só tempo místico e natural, mescla delicada de corpo e alma, erotismo e sublimidade, inscritos em sonetos e formas livres. Para extinguir o drama, que é tão velho quanto o estar-no-mundo, não haverá pacto que nos socorra, e persiste como eco o lamento de Fausto: “Vivem-me duas almas, ah! no seio,/ Querem trilhar em tudo opostas sendas” — a verberar ainda na melancolia da nossa artista.
Erwin Torralbo Gimenez
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