Viver não basta, é preciso escrever, fabular, criar mundos dentro de si e no papel. Publicar. Espalhar histórias. Este Viagens & travessias é isto, não um exercício diletante e burguês de quem cruza o mar do Novo para o Velho Mundo, retornando deslumbrado, porque a sua biblioteca pessoal, a que mora em sua alma, faz de Décio Torres Cruz alguém dotado de sabedoria, aquela mesma que compartilhou ao longo de anos na sala de aula, na academia. Ele empreende aqui, notem, o caminho que todo grande escritor persegue, o do próprio ofício, a busca do escritor por ele mesmo, justamente porque reconhece na sua arte, no labor com as palavras, a matéria que constitui a literatura e a si. Não há separação, creio, entre o verdadeiro artista e a palavra, o que escreve e torna verdade, palpável. Não há deslumbre, nem achaques, nada aqui é superficial, sempre um olhar além. Se no seu A poesia da matemática precisei ir aos pés dos deuses que habitam a Acrópole para entender a pureza e a fonte de inspiração do que o bardo cantava, neste livro entendo, de cara, que Décio Torres Cruz é alguém dotado do mais sincero compromisso com a arte, Ulisses que corre mundo e retorna a Ítaca, mareado, curtido de sol e de verdade, aquela verdade que só quem atinge os mais altos e profundos graus de maturidade pode ter: que o melhor lugar do mundo é a nossa morada, nós mesmos, a memória que fabulamos e construímos e que, com gênio, compartilhamos com o leitor.
Leonardo Costaneto
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