Natanael Oliveira do Carmo, ou simplesmente Natan, vem se transformando num dos grandes nomes da atual literatura brasileira. Certo que seu reconhecimento já deveria ter ocorrido. Mas não! O melhor para o sabor da fruta é o tempo de maturação. E exatamente nesse momento de maturação, quando o tom grisalho se lhe acentua, Natan nos traz uma narrativa ― não diria inovadora, mas renovada ― uma narrativa que nos fazia falta. Tão acostumados que ficamos por ler clássicos. Nesse livro o narrador é transgressor, um subversivo, que subverte a ordem do caos, do tempo, da própria narrativa; escreve como quem cavalga, narra como quem declama um poema cheio de saudade, conta como se ficasse a ver as ondas num ritmar lento e certeiro ― indo e vindo. Toando e ecoando. A Breve Canção da Vida não é breve, é peremptória, denota um tom inquietante esboçado por Franz Kafka, recolhe-se num prelúdio quase melancólico entoado por Pablo Neruda: “… posso escrever os versos mais tristes essa noite…” Verdadeiramente, há aqui uma transgressão: essa não é uma breve canção da vida… Essa é uma eterna canção que nos toca a alma e nos faz imorredouros. Parabéns, Natan, por esse ato de nobreza, por ser “fibra vaga na tessitura do mundo; parte do todo, pigmento no azul do céu, onda do sentimento universal, molécula invisível da corda que liga os homens”. Tua breve canção é uma sinfonia por inteiro.
Aurélio Ricardo Filho
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