O hoje não existe: crônicas sobre o ontem e o amanhã

No meio do caminho, tinha uma pedra. Tropecei. Topei nela com o dedão. Poderia ter olhado para o chão, insultado a própria pedra, praguejado Deus e os santos; poderia ter decidido ser mais cauteloso ou precavido (ou, contraintuitivamente, mais destemido e aventureiro); poderia ter resolvido olhar para o chão para evitar perder tampões dos dedos em tempos futuros; poderia ter chorado, lamentado a vida e notado a maré de azar em que me encontrava; poderia ter recolhido o tampão do dedo para sepultá-lo em cerimônia discreta, sem convidados. Mas segui caminho. Trabalhei, resolvi assuntos pendentes, paguei contas, retornei. De volta ao lar, saudei esposa e filha, coloquei a chave no porta-chaves, tomei banho, jantei. Depois, escrevi sobre o tropeço na pedra. Assim nasceu este livro. Assim nascem todas as crônicas, que são, em forma de texto, um recorte de realidade que o nosso espírito faz.