No meio do caminho, tinha uma pedra. Tropecei. Topei nela com o dedão. Poderia ter olhado para o chão, insultado a própria pedra, praguejado Deus e os santos; poderia ter decidido ser mais cauteloso ou precavido (ou, contraintuitivamente, mais destemido e aventureiro); poderia ter resolvido olhar para o chão para evitar perder tampões dos dedos em tempos futuros; poderia ter chorado, lamentado a vida e notado a maré de azar em que me encontrava; poderia ter recolhido o tampão do dedo para sepultá-lo em cerimônia discreta, sem convidados. Mas segui caminho. Trabalhei, resolvi assuntos pendentes, paguei contas, retornei. De volta ao lar, saudei esposa e filha, coloquei a chave no porta-chaves, tomei banho, jantei. Depois, escrevi sobre o tropeço na pedra. Assim nasceu este livro. Assim nascem todas as crônicas, que são, em forma de texto, um recorte de realidade que o nosso espírito faz.
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Lucas Novaes é professor de língua portuguesa. Reside e ensina em sua terra natal, Vitória da Conquista, Bahia, onde também foi sua formação em letras na Uesb. É mais leitor que escritor, mas, nos últimos dois anos, tem invertido essa ordem, pois passou a escrever regularmente e tem contos, crônicas e poemas publicados em coletâneas.
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Marianne Silva Freire –
“Crônicas sobre o ontem e o amanhã” revelam a maturidade da substância filológica da escrita de “camada de livros “ sobre a natureza que havia no caminho uma pedra em que Lucas se encontra como escritor. Há uma limpeza estética e poética que tateiam os “pensamentos.” A intenção do livro é muito agradável, bem esclarecida, bem delineada, com uma configuração de boa vantagem, o desenho psicológico busca recursos e estilística e consegue um “bom espelho”, o que para o crítico severo é hedonismo, para o crítico analítico é a percepção do escritor de estar dentro dos sentimentos das camadas de palavras do seu próprio livro. Lucas trabalha o corpo-crítico, filosófico e antropológico ao narrrar “Crônicas sobre o ontem e o amanhã”, onde o ontem filosófico é o tempo, seu trânsito poético é leve e de poucos movimentos, onde distante se percebe o círculo de uma leitura, o desafio do leitor é criar uma estrutura:
“É preciso que haja uma estrutura, uma coisa sólida, consistente, artificial, capaz de ficar sozinha em pé”. O espírito, a pedra, Deus, falar dos tropeços, o ficcional tem um olhar estético, poético e simbiótico, um belo estado da arte construído com o estudo de
Lucas ao concentrar-se na esfera do imaginário da sua obra literária. Os detalhes uma matriz perspicaz de escritos carinhosamente bem trabalhados em todo o espírito do texto, o tornam um escritor de verdade e peso.
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