Percebemos em Fases do afogamento, de Marcela Duarte, as transformações da memória, como quem observa seu reflexo na ondulação das águas. Isso vem em montagens, contadas como quem recorta palavras de jornais que publicaram a própria história, e que são reorganizadas. De memória viva, que se ressignifica, avança e retrocede, acena sob novas luzes, revela novos acentos, que reluta em assentar. “a lembrança do que não existe é uma âncora sem barco”, define a autora. A matéria-prima e a constante do mar é a água, que existe ali em puro movimento. Os poemas são tentativas de registrar instantes dessas ondas. As palavras deixam de ser coletes salva-vidas para reiterar afogamentos, no discurso e na construção textual, deslocando o leitor da certeza. Em seu livro de estreia, nos convida a pulo aos pontos mais abissais de um relacionamento e suas lembranças.
Rodrigo Luiz P. Vianna
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