Veia forte

Um corpo. Biológico, social, político, cultural, histórico. Um corpo que se quer máquina. Um amontoado de células que realiza sinopses, descama, multiplica, só não produz uma gota sequer de insulina. Um corpo que se move no mundo. Está. Se faz político e histórico, quer ser barricada. Que adoece e escreve. Dói e escreve. Sangra e escreve. É livre e escreve. Aplica pelo menos 5 injeções de insulina por dia, 35 por semana, 1800 em um ano e sabe-se lá quantas pela vida. Tenho diabetes tipo 1 há 16 anos e escrevi um pouco sobre o que não se vê, o cotidiano, internações, das marcas quase invisíveis, do sangue que pinga todos os dias, o que se passa para além das tripas de quem precisa de um anexo para viver. Escrevi também sobre habitar um corpo de mulher e sobre as outras que me habitam. Ninguém é uma só e sou muito mais do que meu pâncreas que não funciona.