Decerto que os mais puritanos vão se assustar com a narrativa elétrica, tecnológica e debochada de André Cunha em Colisão frontal, que tão bem marca os últimos lances da vida cultural, política e filosófica do país. Se de um lado estamos atolados numa onda reacionária que a todos carrega em direção à sarjeta global, do outro, há quem assista, atordoado, ao espetáculo medonho. Será a literatura, a arte, ponte para atravessarmos o apocalipse que nos foi antecipado? Talvez sim, ou não. Todavia a leitura de Colisão frontal, que não é bíblia nem mapa, que não pretende ser boia, nem tábua, será prazerosa, na medida em que seu vigor nos desloca, ao mesmo tempo que nos deixa com aquela sensação de slow motion dos filmes, quando o herói tomba contemplando o mundo ao redor que, também, desmorona.
Leonardo Costaneto
Avaliações
Não há avaliações ainda.