“’Um dia serei eu mesma’? Pergunta a poeta neste exercício de autoconhecimento que intitulou Dispensável nudez. No entanto, a discrição com que promete se mostrar não dispensa a força sempre presente nas imagens e na linguagem poética. Corajosamente escuta a própria voz reagindo à solidão e ao silêncio. A desconfiança das hostilidades do mundo não a impede de perceber quando a vida insiste em pulsar, pois centelhas crepitam no fundo de tudo e não há como apagá-las. A mulher que se doa vem à tona, tanto na mãe que traz a vida a outro ser quanto na amante disposta a partilhar sua companhia e sua compreensão. As dificuldades e os dissabores de amar questionam a esperança, quando a noite se torna difícil de vencer, mas a desilusão e a consciência da inegável constância da morte são confrontadas por uma feminilidade lunar, ancestral e fértil. São águas e sementes que realimentam a vida. Densa, rebelde e também suave, a voz que escapa dos poemas revela a mulher experiente, capaz de domar as palavras e de se mostrar em essência sem a necessidade impulsiva de se despir em vão. Madu Brandão construiu uma lírica sereia, seguindo o rastro da mítica Ijaci, atraindo seus leitores a um revelador mergulho no rio que mistura os fluxos da natureza e do sonho. Os versos que nos apresenta a autora não são longos nem são muitos. São para ser relidos e saboreados, concentrando uma sabedoria audaciosa, que nos incita, em tempos tão difíceis, a não perder de vista o convívio e o compromisso com o belo, as marcas mais apuradas de nossa humanidade”.
Lino de Albergaria
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