A escrita de Ana é apaixonada e mórbida: a delicadeza de quem ama é também a violência desse mesmo amor. Não-lugares em meio a uma natureza que pulsa seu sublime, seu mistério, tudo que há de escatológico, selvagem e melancólico. O tempo de seus poemas não tem ansiedade, pressa em destroçar as coisas, mas a calma de uma cobra que chega lentamente perto da sua presa; uma agressividade em tempo dilatado, como o obsceno repulsivo, estático e fascinante de um corpo morto – talvez dilacerado. Existe algo de nostálgico em seus poemas, uma contemplação que processa a crueldade do amor, de ser uma coisa que sente coisas em um mundo estruturado por guerras. Existe também uma liberdade na abjeção que os poemas parecem celebrar. Um triunfo do gozo de uma mutilação. Gozar em meio aos destroços da civilização, das partes arrancadas de si, sendo o sadismo a única forma possível e genuína de amar.
Oliver Olívia
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