O beijo da inquisição

A flecha incandescente rasgou a negritude da noite como um foguete de São João, do outeiro ao norte, deitando fogo no sapê de um casebre de pau a pique do vilarejo. Soou a inúbia do levante. Houve berreiro de ambos os lados; de lá, a escumalha dos paulistas corria sem rumo, guinchando e atroando impropérios, alazoando palavrórios descabidos, mas que julgavam estrepitosos, como se não compreendessem o que estava acontecendo. Do alto do morro, gritos de euforia, pelo tiro certeiro, vinham da horda dos tupinambás, mamelucos e toda a gente de Manuel Nunes Viana, apinhada apenas para a matança. A visão das enormes labaredas vermelhas, alaranjadas e azuis crepitando, abrindo um clarão na escuridão da noite e subindo aos céus, era motivo de alegria e contentamento para essa gente, pela justiça que tanto havia tardado.