Ler O menino que escolheu não fal(h)ar é acompanhar em Otto o tilintar tonitruante da palavra fecundada e não parida. Arrastado em muito o tempo de sua gestação, essa coisa-palavra afeta-nos numa aguda mistura de angústia e esperança: a palavra ainda coisa, protopalavra, é de quem? Do sujeito menino que arrisca seu corpo no mundo com uma coragem singular, ou é do mundo que corporifica o imperativo da cautela, do recuo, do “não deixo sair de mim o que me dá medo”?
É quando essa falsa questão ao mesmo tempo se coloca e se dissipa — como um chão de terra batida por crianças que ali acabaram de passar correndo exalando excitação — que Otto para de brigar com a contração cada vez mais vertiginosa e… deixa desabrochar nele/no outro/no mundo um corpo que pode deixar habitar-se pela falha.
A palavra fal(h)a, sempre, e é assim que ela explode sua beleza na espera de qual pedacinho-sentido encontrará em cada um, em cada ser em construção, em cada tempo em que se deixe melodiar.
Todo mundo (h)ouve.
Mariana Mayerhoffer
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