Principio a escrita deste texto, tateando alguma palavra que se insinue capaz de traduzir ou inscrever, nesta breve apresentação, aquilo que todo mundo quer, mas que “só se traduz na boca um do outro”: o amor. Este sentimento que, creio, pode revelar-se por diferentes ângulos, assim como pode, por pura revelia, ousadia ou excitação, não revelar-se nunca. Penso no amor às vezes como “a saliva que brota da fome” e que, por saber-se ou sentir-se intraduzível, escapole por aí, entre tantas mãos, mentes e bocas. Talvez assim, nesses movimentos de descobrir-se, saber-se, deglutir-se, expandir-se, o tão citado amor hasteou-se na língua de Mariana Rozario e desembocou neste que é seu segundo livro de poemas. Nesta obra a autora vai tecendo um ordinário e intenso mergulho pelas diversas frechas, camadas e mundos que, como bem elabora Conceição Evaristo, “só o silêncio da poesia penetra”. Aqui o amor aparece “como quem ensina os mistérios de declives e depressões” e abocanha a palavra, depois a macera, sem receio de mostrar o absurdo do desejo e o escancarar da liberdade, mesmo quando “não sabemos se há língua para isso”. Afinal, Rozario bem sabe que além da língua, há linguagens, há corpo e saliva. E há a poesia que é todas as coisas. Convido-os, então, a enveredar-se pelas voltas desta obra, “em gozo, êxtase e susto”. Porque o amor que enovela este livro, “não é gravidade, não é atração, é a força da tua língua.”
Louise Queiroz – escritora
Luiz Rosa –
Achei lindo demais. O titulo então? perfeito! Todos nós temos algo a dizer, mas nem sempre sabemos como. Os poetas estão aqui para isso: alinhar e apresentar da forma certa algo que trazemos no peito e não sabemos expressar.