Quem mora nas capitais tem por vezes um imaginário idílico sobre o interior. Lugar de paz, ar puro e cadeiras nas calçadas. Não à toa ouvimos pessoas manifestando o desejo de se mudar para uma cidadezinha pequena, criar os filhos com tranquilidade, ter relações mais próximas, descansar após a aposentadoria. Quando falam as flores é um soco no estômago e revela um interior de São Paulo como só um bom observador das relações humanas pode descrever. Como desde o início da narrativa a tragédia social já está expressa, o leitor pode ter o sentimento de que nada está acontecendo. Mas esquecemos que o acontecer é processo e não evento. E é sobre essas camadas e estruturas sedimentadas no processo que cada flor nos fala. Assim, em cada entrelinha será possível, para um leitor tão perspicaz quanto o escritor, notar as violências de gênero, raça e classe que fundam nossa sociedade.
Ariana Rumstain
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