O que seria um corpo? Para tal pergunta já foram destinadas muitas palavras. A ciência e a literatura não caminham juntas e por isso derramaram sobre o corpo muitos enigmas e numerosas exclamações, com conclusões, não raramente, bastante contraditórias. Essa entidade, particular e social, mesmo sólida como uma realidade intransponível, é exposta aos diversos experimentos poéticos, no conjunto de textos intitulado Tive sede de bocas alheias, que revisita lugares já consagrados da tradição literária como reinventa novas formas de se pensar e se tanger o corpo. O corpo é a realidade a partir da qual o poeta Deivide cria composições imaginárias, investidas de silêncios, pausas e reflexões que arquitetam um ambiente no qual se possa habitar. Não se trata apenas de uma estrutura física, pois o livro Tive sede evoca os sentidos para levá-los para um além-corpo e combiná-los para a criação de campos sinestésicos. Os poemas recorrem à vitalidade que se encontra de maneira inquestionável na compleição. O desejo e o afeto são possibilidades infinitas que o poeta reorganiza como se fossem música. E como músico que é, Deivide compõe e canta, num ritmo impressionantemente dançante e crítico, para embalar, roçar, ninar e sacudir no espaço doméstico e nos lugares públicos.
João Barreto da Fonseca
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