Os versos de Desertos, pássaros, quintais, de Antonio Gil Neto, parecem dançar aos olhos do leitor. Compõem cenas e remexem retinas no breque de versos quebrados por enjambements que agitam signos e balançam sentidos. Como samba sincopado, ou modinha misturada com maxixe. O poeta anda meio assim de viés, investigador de si mesmo, do outro, do mundo, “passa/alisa/tudo/perpassa”. Quer fundir-se ao observado e do mesmo modo contempla a memória, alguma saudade, sem se perder em nostalgia estéril. Pelo contrário, está tudo vivo dentro dele, ainda que com incertezas: “Imagens em peregrinação volteiam os vazios”. A partitura – só aparentemente caótica – guia o baile: “Vira e mexe/mexe e vira/ sinto a vida bagunçada/ No quintal do meu afeto/ Já pousou um quero-quero”. O movimento é livre e solto (mas não ébrio) no correr da página, na disposição dos versos. No remelexo pelo que lhe soa imprescindível, o poeta passa em turnê por quintais da infância, encanta e convida o leitor a percorrer com ele – bailando – os salões de seu mundo interior.
Luiz Henrique Gurgel
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