Nas estreias cai um pano. Cai o tecido, a sua manufatura, cai o que cobre o vestígio dos restos. É de modo solene, então, que se dá a estreia de Leonel Velloso na poesia, por meio de versos fundos, como ele mesmo diz, “seus enraizamentos”. Todos permeados pelo eco de uma travessia analítica que se encontra no escombro da letra apagada, agora restituída. Nas estreias buscamos as fontes, as matrizes, as mãos iniciais que guiam o poeta, e elas estão todas lá: Plath, Sexton, Ana C., Cixous, Flávia Trocoli, Fiama, mas também o amante, a mãe, os animais, es amigues. Pelas mãos que preparam o resíduo, ganham corpo os poemas e sua economia que, ciente dos excessos, concentra, e em tantos outros ora se pulveriza, ora se acende. Leonel persegue as imagens, já que elas “não morrem, sobrevivem,/ lá, onde não se espera.”, de modo que apesar do pano caído da estreia, a poesia acoberta e protege da franca nudez e do assombro; poesia como “alimento possível para a nossa paisagem/ em desabrigo e destruição”.
Tatiana Pequeno
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