Para começo de conversa, Guilherme Ambros desacomoda o leitor. Suas palavras dançam em desnudamento da alma. Há que se ter coragem para encarar a própria paixão, os sentimentos que extravasam e a loucura que emerge. Ambros namora com a loucura e caminha à beira do abismo. Se, como psicanalista, lida com a loucura em seu divã, aqui, em versos e prosas, constrói formas híbridas, recusando a literatura aplicada a gêneros e colocando-a à procura de si. Cara a cara com o estarrecedor, permite que palavras brotem do vazio das páginas, inventadas, e nos convida a viajar por seu disparate de quanto mais louco, mais são. Nos convida? Não. Nos impele, nos obriga, nos delira. A conversa que propõe é um encontro no desconforto. Escombros de uma mente inquieta, que não aceita a normalidade, a não ser como forma de patologia contra a paixão. Pois estar vivo é ter as palavras como oxigênio. Resta a paixão como destino, mar interno, do qual emergimos na circularidade do argumento: “enlouqueço e escrevo, enlouqueço e escrevo, enlouqueço e escrevo”.
Júlio Conte
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