O teatro, momento do presente e de presença, é também uma obra jamais acabada. Ao escolher a peça A descoberta das Américas, de Dario Fo, para análise, em cartaz há 18 anos, Alanderson Machado fez uma escolha certa e honesta. Certa, pois, percebemos que o monólogo não tem nada de uno e proporciona uma escuta ainda mais silenciosa e cúmplice do outro, no caso, o espectador. Honesta, porque, o autor, apresenta, de forma minuciosa, a sua recepção crítica para entender que, no caso de ator criador Júlio Adrião, traduzir e adaptar é destruir, digerir, transgredir, ressignificar, enfim, um ato antropofágico. Jornalista, ator e pesquisador, Machado utiliza essas facetas na construção deste riquíssimo trabalho, fonte significativa para a pesquisa cênica. Esse espetáculo solo é aqui desbravado para que o leitor, leigo ou especializado, navegue no universo teatral em mares pouco conhecidos. A gênese de uma obra de arte, em constante processo de vir a ser, como é o caso deste estudo e da própria peça, remete ao poema de Murilo Mendes: “Ninguém sonha duas vezes o mesmo sonho. Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio. (…). Nascer é muito comprido”.
Mariana Novaes
Avaliações
Não há avaliações ainda.