Vou falar aqui sobre as leis que regem os encontros literários. Essas regras estão impressas no subconsciente de cada pessoa literária. O seu manual de instrução é a letra “Futuros amantes”, do Chico Buarque. Não parece fazer sentido. E não faz. A interpretação fica ao gosto de cada um. É importante esclarecer que uma pessoa literária é toda aquela envolvida com a literatura. Escritores, poetas – que são uma categoria a parte do primeiro grupo –, revisores, acadêmicos da área da literatura, entre outros. Os editores precisam passar por uma avaliação antes. Nem todos podem fazer parte do seleto grupo. Muitos sequer podem ser considerados sensíveis, característica essencial para moldar a personalidade dos literários. Esses são, aliás, os futuros amantes citados na música. A letra fala da descoberta de cartas no futuro. Considero encantador quando vem à tona o romance de dois escritores, principalmente quando se trata de uma história passada. Pensemos – para citar um exemplo e solidificar este texto sem sentido – em Albert Camus e Maria Casares. Ela era atriz, eu sei. Mas é o romance que me lembro agora. E Camus bastava literariamente pelos dois. É bonito imaginar como era a relação, as cartas trocadas, pensar se um ou outro texto foi escrito para aquela ou aquele amante. E utilizo aqui a palavra amante de amor, não necessariamente em referência à relação extraconjugal. Embora as regras gravadas no subconsciente das pessoas literárias – informação já mencionada lá no começo do texto – apresentem um parágrafo esclarecedor sobre essa questão. E se eu não me engano, pois cito apenas de lembrança, trata-se – que ironia – do sétimo parágrafo: Não existe traição quando os dois envolvidos são pessoas literárias. Existem apenas futuros amantes.
Melina Galete não nasceu em Niterói, RJ, mas adotou a cidade como sua. Publicou os livros Das vezes em que pratico o esquecimento (2023), Poemas para pessoas que cruzam oceanos e não viajam (2022) e Da verdadeira Índia (2020). É doutora, mestra e licenciada em Literatura. É genealogista nas horas vagas e mergulha frequentemente no passado, sem saber o que vai encontrar por lá. Quando não está escrevendo, revisa livros de outros autores. No dia a dia, é mãe solo atípica.