Conheci o Vinícius Fonseca em uma oficina rápida de Escrita criativa. De lá pra cá, ele integra um grupo de escrita chamado Contopeia, no qual os participantes escrevem e discutem os textos uns dos outros. A floresta organizada surgiu de um dos desafios propostos ao grupo, mas que o autor acreditou ter fôlego para além das poucas linhas iniciais. Das idas e vindas da história e do autor, temos agora uma longa fábula, em que ideias e valores da sociedade – não sei se animal ou humana – vão sendo confrontados à medida que personagens infantis entram em cena em diálogos adultos. Esse contraste de universos, caro às fábulas de Esopo, à Panchatantra e por que não a contemporânea BoJack Horseman, delineia tanto os personagens criados como os sentimentos durante a leitura. Assim como Animal Farm parecia ser, a princípio, uma história para crianças, mas mostrou-se mais complexa e profunda do que o universo infantil, A floresta organizada discute as relações sociais permeadas por poder, preconceitos, amizade e valores. Enquanto boa parte da história é conduzida por diálogos, está-se construindo uma argumentação nos tons e temas escolhidos pelo autor, assim como as metáforas do texto dão a gradação do inusitado e do humor, às vezes até indelicada.
Em tempos nos quais o animalesco saiu do armário e sente-se à vontade na sala de estar, importa refletir sobre as relações humanas, sua qualidade, o modo como o vínculo social se cria e se mantém e os frutos decorrentes delas. Desta forma, leia com cuidado, buscando achar as camadas de sentido para deleitar-se no percurso ao qual o Vinícius te convida. Boa leitura.
Flávio Freire
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