Este impactante livro de Karine Szuchman nasceu de um processo pessoal e coletivo. Karine, como psicóloga de formação, foi desde cedo confrontada com pessoas que denunciavam histórias de tortura e de todo o tipo de violência policial sofridos por seus filhos ou parentes. Essa escuta e acolhida também facultou a construção de outra modalidade de saber. Trata-se de uma epistemologia eivada de subjetividade(s), que abandona o (falso) objetivismo positivista a favor de uma noção de verdade testemunhal. Com essa experiência, Karine mergulhou no aprendizado do significado do testemunho como trabalho do trauma que ela nos apresenta aqui. O espaço do testemunho surge como pedra de toque de um saber essencial em tempos de neofascismo e de necropolítica. Sem escuta o testemunho não pode existir. Por outro lado, o próprio testemunho para se construir exige um complexo trabalho de imagens e palavras que desconstrói nossos padrões tradicionais (positivistas) de narrativa. Karine nos desperta para o fato de que vivemos numa era de virada testemunhal do saber na qual não deve haver mais lugar para a representação (controladora) do outro. Vamos, assim, da espera à escuta e daí à produção de uma ética e de uma epistemologia do cuidado.
Márcio Seligmann-Silva
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