Alice é uma dessas almas metódicas, portadoras de pontualidade crônica. Para ela, dar corda no relógio tem o mesmo efeito de quem reza: um alívio para o espírito. Justamente por isso, muitos se viram surpresos quando, aos 43 anos, ela joga para o alto uma carreira bem-sucedida como tradutora em São Paulo para mergulhar em um mestrado em Paris, vivendo em uma quitinete mofada e traduzindo romances água com açúcar para pagar as contas. Para aplacar sua solidão, ela recorre a um site de relacionamentos e conhece Oran. Dois meses depois, estão morando juntos. O convívio é difícil, e as brigas, cada vez mais violentas. Longe dos amigos e da família, em um país cada vez mais fechado aos estrangeiros, Alice descobre ser a vítima perfeita. Neste thriller psicológico escrito numa linguagem enxuta, ágil e potente, algo raro em livros de estreia, Ana Claudia Fonseca nos conduz mão na mão pelas catacumbas da alma humana e nos mostra que a felicidade e o pesadelo muitas vezes são as duas faces de uma mesma moeda. Impossível chegar à última linha de A mulher ideal sem pensar: “Poderia ter sido comigo”.
Texto de André Viana.
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