Olhar de frente a própria vida e fazer dela inspiração a ponto de transformar as dores em arte é um ato que exige força, fôlego e, sobretudo, coragem. Sendo assim, intensidade é uma palavra indispensável, que acompanha o leitor na descoberta da poética de Lily Gustafson. Com seu eu lírico, a poeta nos aponta um caminho para uma jornada em que não é mais possível ignorar o que se viveu. Deste modo, em Fantasmas e suas vozes somos transportados para o amadurecimento: as então fraquezas se convertem em fortalezas e aquele eu lírico tão fragilizado se converge em alguém gigante. É por meio do lado mais amargo do sentir que Lily Gustafson cava a esperança, talhando-a em seus versos. Sua poesia é semente resistente, que esculpe a natureza trazendo à luz uma singela flor que brota no asfalto árido. A cada poema, seu eu poético nos prova que é possível silenciar os fantasmas e dar ouvidos as nossas vozes interiores, ainda que isso signifique viver “em um conto de fadas que nunca existiu” ou ter que partir mesmo havendo alguma forma de amor. Ao reconhecer e honrar as próprias raízes, coletar os talismãs das amargas experiências e provar de outros sentimentos, tempos e espaços — não apenas nos temas, mas também na composição formal do poema —, Lily Gustafson provoca seus leitores a voltarem-se para si mesmos: quais são os pontos de fortalecimentos que as nossas dores nos dão? Como transmutá-los? Assim, a poeta oferece ao mundo a possibilidade de ressurreição — tanto de si mesma, quanto aos seus leitores — provando que é possível encontrar novos caminhos.
Fernanda Rodrigues
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