Nesta nova série de poemas intitulada Futurografia, João Diniz fragmenta e reúne o tempo, não apenas aquele cronológico, linear, mas também outro, o do pulso vital, que desconhece a lógica e os sistemas humanos de tentativa de controle da realidade. No decurso de seus oito blocos líricos, Futurografia atenta para a urgência dos dias, para o caos instaurado pelo apocalipse anunciado na eclosão da pandemia, para o pulso que insiste dentro de cada vivente. Se em O arco e a Lira Octavio Paz nos diz que o poema é “um conjunto de imagens e um sentimento que o anima”, quem conhece Diniz sabe a que ele vem uma vez mais: convidar o leitor para uma profunda e rica experimentação verbal, imagética. Pictórica. E não é preciso frisa sua trajetória profissional como arquiteto para dizer disso: este jogo entre imagens, e entre imagens que erguem edifícios verbais tão sonoros e potentes, decorre do talento e do domínio da técnica por parte do poeta João Diniz, para além
de suas outras experiências. Não que haja uma compartimentação do sujeito, nada disso. O que cabe dizer, em suma, sobre João Diniz e seu Futurografia é que trata-se de uma obra urgente e que levará o leitor ao reconhecimento de uma precariedade inerente à condição humana, mas que a despeito disso insiste, resistente, se recria e segue mais além, para se consolidar, afinal, como aquilo que fica grafado na história coletiva, verdadeira obra de arte.
Leonardo Costaneto
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