Leio o livro de Débora Line de um só fôlego. Anoto palavras-chaves e busco no Google: inestranho. A pesquisa confirma minha dúvida. A palavra não existe. O que seria o contrário de estranho? Normal? Débora sabe que normal pode até existir no dicionário, mas na prática, a palavra inexiste. A autora nos mostra com sutilezas que a normalidade nada mais é que uma convenção avariada todos os anos e que inestranho faz mais justiça ao que somos: pessoas estranhas, mas familiares (sem me aprofundar em Freud). A poeta, mãe de um garoto de espectro autista, ensina-nos a duvidar do típico, do lugar comum. Olhar nos olhos se torna um gesto pró-forma quando se pode olhar na alma. De certa forma, Débora encontra uma resposta para a pergunta que sempre me inquietou: o que faz um poema ser bom? Ser verdadeiro.
Carina Gonçalves




Débora Line, 1984, nascida e criada em Belo Horizonte, na pandemia, mudou-se para um sítio com seu filho, que é autista. Graduou-se em Design, tem Mestrado em Música, pela UFMG, e cursa Doutorado em Computação na mesma instituição. Prefere transitar entre as linguagens. Escreve poemas, ensaios, bilhetes e, para amenizar sua hiperatividade escritural, segue o conselho que Szymborska deu no livro Correio Literário: “escrever cartas, um diário ou versos para as pessoas do círculo mais próximo”. Inestranho é seu primeiro livro publicado.
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