Ao entrar em contato com o Manifesto dos tardígrados, de Leonardo de Oliveira, tive como primeira experiência de leitura pesquisar o que eram tardígrados. Criaturas microscópicas, movem-se vagarosamente pela Terra há milhões de anos, capazes de sobreviver a condições extremas de clima e temperatura — até ao vácuo do espaço. E assim, talvez, os versos deste livro tenham sido forjados, na miudeza e paciência, em vagarosa persistência. No entanto, nos atingem como golpes rápidos e curtos de um haicai, ainda que não o sejam apesar do flerte. Ironia e sagacidade se distribuem como notas musicais pelas linhas dos poemas, perguntas-mísseis convocam o leitor a rasgar o horizonte do espaço em branco da página. A poesia de Leonardo de Oliveira se inscreve de modo peculiar no imaginário do leitor, atenta e sonora, não esquecendo, porém, da leveza que se encontra no chão dos dias. O Manifesto dos tardígrados, de fato, se apresenta como um contramanifesto em suas entrelinhas e, nos interstícios, os tardígrados observam.
Marcelo Martins Silva
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