Ao despertar, percebe que os relógios marcam horários diferentes no mesmo ponto do mapa. É passeando por cidades que Mariane demarca aquilo que vê. E vemos também. Nunca estive em Veneza antes de lê-la, nem ao menos na espera de um centro cirúrgico. Mas o pulôver de seu avô é o pulôver de meu avô. As letras grafadas no museu da resistência um dia foram sentidas nas pontas dos meus dedos. Tomamos emprestadas as memórias, trocamos de nome. Em Rastro, pela primeira vez, temos acesso aos poemas da autora – que há anos dedica sua pesquisa ao estudo acadêmico sobre poesia moderna e contemporânea. Aqui, vemos o tempo sendo diluído na passagem dos versos, de maneira sutil, engraçada e dilacerante. Cambaleando entre o instantâneo e o permanente, do zap ao museu, entre a criação e a destruição, da escrita à censura, provoca-nos a identificar, com as palavras que utiliza, aquilo que fica.
Aline Kanay
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