Biblioteca Tonico Mercador

         Tonico Mercador é cidadão do mundo, self-made man que viajou por aí e foi barman, professor de português para estrangeiros, artesão e cozinheiro. Nos anos de chumbo, fez piquete em porta de fábrica, foi chamado de comunista por trabalhadores e militares. Foi em cana, sofreu tortura e teve os livros de sua pequena biblioteca confiscados.

          Há mais de trinta anos atua como publicitário, Tonico correndo o Brasil, dos cafundós de Minas a Altamira, viu coisas belas e outras nem tanto. E o que viu escreveu, porque, avant tout, ele é poeta – e daqueles que não transigem no ofício, o de escrever sua verdade buscando a palavra certa, sem firulas nem gracejos, muito menos jogos com imagens fáceis ao gosto de leitores incautos. Tonico Mercador nunca fez concessões em nome de aplausos ou likes. Sua matéria é a palavra bruta transformada em metáfora, com cruor e espanto, vitalidade e paixão.

          Os poemas “Dimensão do homem” e “Sobre Hair” foram premiados em 1º e 3º lugar, num concurso de poesia em Barbacena, sendo publicados no Suplemento Literário de Minas Gerais no ano de 1968. Mas sua primeira aparição em livro foi numa edição singela, própria dos anos de 1970, na antologia Poesia e mais poesia, com outros sete autores, tendo sido considerado um dos melhores poetas ali.

         O primeiro livro individual, Itinerário da Era do Rock, de 1988, traça um percurso que se inicia no golpe de 1964 e desemboca no assassinato de John Lennon, em 1980. É a marca de uma geração e teve concepção bastante arrojada. Na sequência, em 1989, lançou Iluminuras, livro-objeto, trabalho de arte a quatro mãos com o amigo e editor Paulo Giordano que era, também, artista plástico. Compostos em linotipo, montados e impressos em prelo tipográfico manual em longas noites insones, o poeta buscava ali a Beleza, lutando contra uma realidade feia, cruel.

           Em 1998, apresentou aos leitores PerverSOS, um livro com três portas, todas experimentais, com forma e conteúdo num conflito mortal, em que o poeta se revela e pede socorro. Há uma certa revolta no ar, mas sem perder de vista o lirismo. Mais tarde, em Hotel Ambos Mundos, de 2004, Tonico Mercador escancara três janelas (que dão para três mundos): a solidão vista como um tema único na primeira delas, o onírico e o mágico, na segunda, bem como nas traduções de algumas gravuras em metal do artista Paulo Giordano. Na terceira, temos o poeta a conversar com alguns mortos ilustres de Cuba, numa Havana destruída por uma guerra invisível.

           Olhos quase cegos, de 2009, desnuda as imperfeições do mundo, da vida, do amor e das coisas. Ilustrado pelo artista plástico Fernando Pacheco, os poemas-olhos dessangram a vida breve, choram a dor, contemplam o horizonte incerto da existência. Em 2017, mais um salto temático e estético de Tonico Mercador. Em A flor de Zíaco, o bardo mergulha na poesia erótica e pornográfica, fraqueza de todos os poetas. Já em 2019, pela Sangre Editorial, temos Cantos de silêncio e ausência, com o poeta debruçado sobre os escombros da palavra, sobre a ausência de palavras e um mundo que desaparece, inominado.

            Tonico Mercador, também conhecido por invadir as obras-primas de gênios universais, traduziu poemas de Alen Ginsberg, James Joyce, Salvador Dalí, Julio Cortázar, Henry Micheau. Foi diretor de redação da revista Palavra, na virada dos anos 2000, saiu das páginas dos livros e subiu ao palco em apresentações poéticas memoráveis, como no Uivo, poema de Ginsberg, traduzido e adaptado para performance multimídia concebida por Mercador.

         Ao completar 50 anos de poesia, Tonico Mercador, que tanto viu, escreveu e viveu, continua se reinventando: sem concessões, gracejos ou firulas! Da era do rock aos tempos de fakenews e pandemia, o poeta só faz por confirmar a essencialidade da obra, sempre à mão de leitores que, como ele, pactuam com a palavra entregue ao labor de quem sabe torná-la valioso testemunho de amor à vida e à literatura.

Biografia

Tonico Mercador nasceu no Maranhão, foi presidente da Associação Profissional dos Escritores de Minas Gerais e diretor da revista Palavra. É cidadão do mundo, self-made man que viajou por aí e foi barman, professor de português para estrangeiros, artesão e cozinheiro. Nos anos de chumbo, fez piquete em porta de fábrica, foi chamado de comunista por trabalhadores e militares. Foi em cana, sofreu tortura e teve os livros de sua pequena biblioteca confiscados. Há mais de trinta anos atua como publicitário, correndo o Brasil, dos cafundós de Minas a Altamira, viu coisas belas e outras nem tanto. E o que viu escreveu, porque, avant tout, ele é poeta – e daqueles que não transigem no ofício, o de escrever sua verdade buscando a palavra certa, sem firulas nem gracejos, muito menos jogos com imagens fáceis ao gosto de leitores incautos. Mercador nunca fez concessões em nome de aplausos ou likes. Depois de vasta obra publicada, em 2019, quando ainda éramos Sangre Editorial, dele lançamos Cantos de silêncio e ausência e O Invasor de livros, para, em 2020, lançar seu 50 anos de poesia. Já em 2024, brindamos o público com Invisíveis e imaginários.

Obras publicadas pela Caravana

Bibliografia