Você já teve um pressentimento de que algo não estava certo ou que iria acontecer? Ou aquela sensação estranha de que você não deveria ir a algum lugar quando já está pronta para sair? Ou melhor, a bendita sensação de que tem alguém interessado no seu par e a pessoa diz que é só amizade? Tudo isso vem da mesma fonte: intuição. Saber de alguma coisa sem que seja necessário que alguém te conte. É o conhecimento claro, direto ou imediato da verdade a partir da interpretação de detalhes. Se são sinais do universo não sabemos, mas que funciona é inegável. A minha intuição não falha e todas as vezes que insisto em fazer o contrário do que ela me diz, me arrependo. Lembro-me de quando eu era adolescente e estava gostando de um garoto. A gente já se conhecia há algum tempo e já havíamos nos declarado um para o outro. A paixão era certa, por isso fazíamos questão de deixar isso claro para todos os nossos amigos. Um dia, uma garota nova que começou a participar do nosso grupo. Pessoas novas sempre chamam a atenção, mas isso não seria um problema se ela não começasse a jogar os cabelos pro meu quase namoradinho toda vez que eles conversavam. Na primeira vez que vi essa cena, cabelos balançando a cada risada de uma piada inexistente, meu sexto sentido já ativou o alerta. Claro que na primeira oportunidade, falei com o menino sobre o que achava que estava acontecendo e recebi o mesmo discurso: “Que nada”, “É só amizade”, “Você está vendo coisas”. Eu estava vendo mais do que coisas, eu estava vendo um letreiro piscando com a verdade dos fatos. Quando falamos para as pessoas de nossos pressentimentos, muitas vezes somos chamadas de loucas. Já que estamos acostumadas a ser taxadas de loucas, que sejamos essa pessoa, mas com a convicção de que temos razão. Isso é outro fato, se é intuição, sempre temos razão. Ou quase sempre. E naquela situação não foi diferente: eu estava certa sobre as intenções da nossa nova colega. Ficamos juntos mais alguns meses até que a paixão passou. Aproveitamos o máximo possível daquele sentimento e, no momento certo, ele se foi. Não era amor, mas foi aí que a razão me encontrou. Semanas depois, eu estava saindo de casa em um domingo de manhã e quando cheguei à entrada do prédio, o encontrei de mãos dadas com a nossa coleguinha que só queria amizade (morávamos no mesmo prédio: ele no andar de cima, eu no de baixo e a avó dele no térreo). Ele deu aquele sorriso amarelo e cumprimentei-os com toda simpatia do mundo. Quando passei por ela e só ele conseguia me ver, disse baixinho: eu te avisei. Seu rosto ficou imediatamente vermelho e eu segui meu caminho. Desde então, aprendi que a intuição funciona e é certeira. Não somos loucas ou sensitivas, só sabemos ler gestos, expressões e energias. Nem sempre precisamos de palavras ditas para interpretar uma situação, o não dito também fala muito alto. Com o tempo aprendi a me interpretar com muito mais cautela e sensibilidade. De tanto falarem que somos loucas, às vezes começamos a acreditar. Isso não passa de um discurso de pessoas que não sabem ler o não dito. Com essa e outras experiências que vivi, aprendi a confiar em mim mesma e a ouvir o som que sai de mim. Nem sempre temos razão, mas na maioria das vezes, sim. Pelo sim ou pelo não, aprendi a desenvolver meu tino para as coisas que acontecem a minha volta. Quando o alerta soa, pode saber, tem alguma verdade escondida. Além do mais, minha intuição não fala, ela grita.
Kathléen Carneiro, 24 anos, mulher negra, escritora, nascida e criada em Belo Horizonte, MG, é bacharela em Biblioteconomia pela UFMG. Tem texto publicado no site Blogueiras Negras (2018) e na coletânea Conte-me um conto (2019). É autora do blog literário Talvez seja simples.
Que escrita leve e contemporânea. É o famoso quem nunca passou por essa situação, amei!
Muito obrigada por sua leitura <3
Obrigada pela leitura <3
Amo a sensibilidade com que escreve os seus textos, de uma forma simples e leve você nos leva a reflexões profundas e intensas… Muito obrigada por existir, escritos de mulheres, principalmente mulheres pretas como você, são fundamentais e mais que tudo necessários, pois coloca no papel vivências que são comuns a todas nós mulheres pretas e que tantas vezes são ignoradas. Obrigada pelo deleite e nunca pare de escrever!!!
Que nós mulheres, pretas, potentes, possamos cada vez mais gritar mais alto até que o nosso som ecoe por todo mundo e comece a mudar o mundo a nossa volta. Obrigada pela leitura <3
O título desse livro é impactante, porque me lembra que o é que simples para o outro pode ser uma batalha para mim, nunca julgue a capa há muito conteúdo além da superfície.
Exatamente. Nossa profundidade é maior do que imaginamos! Obrigada pela leitura.
Maravilhosa!!!
Escutar nossa voz interior.. que reflexão amedrontadora, intensa e maravilhosa!!Sou grata pela oportunidade e privilégio que é poder trazer a tona indagações tão importantes para minha vida através de seus textos.❤
Lindaaaa!!!
Lindaaaa!!!
E simplesmente maravilhosa! Carismática cheia de luz! Vai ser uma grande escritora , parabéns pelos livros , é só o começo da vitória
Simplesmente perfeito!E de louco, todo mundo tem um pouco. Amei a simplicidade da escrita e o perfeito encaixe das palavras!
Você vai longe!!
Grande escritora! Reflexão muito importante para os nossos dias! Sucesso! ❤️
Em cada texto dessa escritora maravilhosa, viajamos em um mundo que é dela e também se torna nosso. A intuição está sempre nos detalhes, que captamos até mesmo sem perceber. Amei o texto. ❤️ Espero que tenha sucesso em todos os seus projetos!