Cartas de ruínas entre o amor: arremate

Ele lhe pediu tempo e espaço, ela lhe recordou que eram livres.

Sempre o quis inteiro, mas somente se houvesse nele o desejo de ficar, de deitar no tempo e fazer morada. Enquanto ele se dedicava a construir o argumento que parecesse encadeado, embora fosse mesmo era encardido, ela deteve-se a olhá-lo e lembrar dos últimos dias de atropelo.

O convite não compreendido por ele de uma viagem inesperada e única a Buenos Aires, o sexo protocolar ausente de entrega e orgasmo. A foto tirada com o foco no prato exótico, cotando-lhe a cabeça.

No atropelo das palavras, o extraordinário foi atomizado em rotina, gasta…

Nele, o sentimento de dívida, nela a incompreensão de quem nunca cobrara nada, além de entrega inteira.

O portal apequenou-se na fenda hermética da fantasia… sobram-lhe os sintomas, e o fim tácito, posto à mesa como um prato indigesto, embora ainda houvesse fome.

Ele lhe pediu pausa e ela lhe lançou o fim, arre(matou) em ruínas, os tempos vividos em amor.

“Podia ter sido foda, mas virou literatura.”¹
¹ Frase da autora Paula Gicovate em “Notas sobre a impermanência”, Faria e Silva, 2021.

Bárbara Breder Machado é natural de Nova Friburgo, RJ, mas reside em Campos dos Goytacazes, RJ. É psicanalista e professora do departamento de psicologia da Universidade Federal Fluminense. Dedica-se ao estudo de temas da psicanálise articulada ao campo da política. Tem interesse pelos temas capazes de transformar a realidade, como a clínica, feminismo e amor.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.