A leitura de “Ana e Luísa”, rápida e dinâmica, certamente deixará aquele incômodo que resta de experiências intensas, mas fugazes. Percebe-se que é intenção do autor que o seu texto se replique como sensação: o desejo de refazer a vida que nos assola a todos, a necessidade de conceber uma nova existência que muito aflige, principalmente o homem, e mais principalmente aos 40, a sensação de que o tempo está acabando e a tal felicidade ainda não veio, a realização financeira, o romance publicado, a conta bancária ou todos os outros anseios que são indizíveis, incontáveis. É mais fácil tentar novamente passando uma borracha em tudo, ou fazendo um Ctrl+Z em vez de continuar culpando os outros por tudo, afinal, a culpa é mesmo sempre dos outros. Ainda mais depois que se tornou praxe culpar os pais, que, perpetuando a orientação cósmica de apontar o dedo da responsabilidade, haviam culpado os seus também. O texto é dividido em capítulos curtos, acompanha um personagem numa breve viagem de reconexão com um passado que não viveu, como se fosse um injustiçado que tem direito a um recomeço, abandonando tudo e todos que ainda mantêm por ele algum apreço. Inclusive a si próprio. Não é possível saber se o personagem alcança seu objetivo, ou se esse objetivo da reparação é possível a algum de nós, seres comuns. Sabe-se, apenas, que foi uma tentativa, tão atabalhoada quanto qualquer outra, de recomeço. Sabe-se, enfim, que o texto ficará pulsando ao final da última linha, estalando as dúvidas semeadas ao longo da narrativa.
Ana e Luísa
R$ 50,00
Demétrius Araújo é de Marabá, no Pará. Professor nascido no início dos anos 1980, publicou um romance ainda na juventude, aos 20 anos, “O rei das formigas”, no qual a narrativa intimista e introspectiva se sobrepõe, transgredindo a necessidade de fixação espacial para a construção de um enredo. Com “Ana e Luísa” pretende menos: quer contar uma história que pode ser a sua ou a do outro que está sentado na mesa ao lado tomando café em silêncio, afinal, é para isso que servem os livros. Demétrius escreve pouco hoje, tenta resgatar o menino que pariu um romance em poucos meses, mas que ficou preso no pântano das coisas necessárias: os filhos, a esposa, as parcelas da casa e do carro.
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