Cordel urbano

A poesia nasce na fala, no ritmo, nas palavras buscando melodias. Muito antes do primeiro documento escrito é nos versos rimados, de métrica impecável que ficam registradas as memórias, que se compartilham histórias, que o pensar se expressa no coletivo. O cordel não nasceu no Brasil, muito provavelmente veio de Portugal, mas aqui ganha uma dimensão que vai muito além da regionalidade. Os versos, nascidos para a oralidade, para os desafios de improvisação, para serem pendurados em cordas e esvoaçarem rimas nas praças e aldeias do Nordeste brasileiro foram considerados por muitos como uma das mais ricas manifestações do senso de humor e do espírito criativo do nosso povo.
Cheio de graça, espontâneo e caprichado na execução, o cordel é desde 2018 Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. E suas fronteiras vêm se alargando para além dos varais, os libretos tão típicos vão ganhando as praças dos espaços digitais e das redes sociais. Os versos de Eder Quintão bebem nas fontes ensolaradas do cordel, mas viajam para longe dos temas da cultura popular, das ruazinhas das cidades do interior, dos varais nas praças coloridas dos nossos vilarejos. Habitam o cotidiano das metrópoles, brincam com a fala mais erudita, floreiam em metalinguagens bem-humoradas, dirigem o olhar agudo para a crônica social, para temas do cotidiano das pessoas que vivem nesse frenesi urbano. É isso que Eder Quintão revela como poeta e que torna seu estilo tão único. Cordel urbano… um título que convoca o leitor para se aproximar da contemporaneidade em rimas e métricas perfeitas, à moda dos cordéis, sim, mas totalmente inseridas na alma de uma cidade fervilhante como São Paulo.