Agridoce é um pensamento poético que começa pela cozinha. Ainda há de ter uma filosofia que comece pela cozinha. Saberes não ocidentais dão notícias disso. O livro de Quésia Olanda também. Como quem faz do encontro entre poesia e filosofia uma grande mesa em que se partilha sabores, saberes, conversas, diálogos, amor e amizade, esse livro se faz como O Banquete de Platão à brasileira e atualizado em forma de versos, ensinando como viver junto (na linda ressonância de Roland Barthes). Agridoce funciona como uma receita, no melhor sentido, dos seus ingredientes, da sua oficina de poesia. Essa oficina pode começar pela cozinha da mãe, na junção entre saber e sabor. Aqui, é no encontro que vida e escrita acontecem, a um só tempo, indissociáveis. Como um lugar arejado em que circulam ressonâncias, ecos, delicadezas do cotidiano e trabalhos de luto, Agridoce ensina que os temperos servem para fazer de uma coisa, outra coisa, fazendo da poesia um gesto de colocar a mão na massa que serve generosamente (como um banquete) para dar passagem à vida.
Danielle Magalhães
Avaliações
Não há avaliações ainda.