“Estamos diante / da escrita / de algo sem um nome / sem contorno nem silhueta”, é assim que Allan Lourenço compreende o verbo lírico, algo que sem forma, mas que se materializa na medida em que o poeta subverte a ordem comum das palavras, encantando-as. Em Corpo, o que temos é um poeta em luta contra as palavras, moldando-as como se barro entre as mãos, a dar-lhes a forma, senão ideal, ao menos a mais elegante, sofisticada e clara possível – mas lembro ao leitor que é no escuro, no silêncio, naquilo que não foi dito, que se abriga a Poesia, este ser etéreo, mas cuja presença sempre nos é sensível.
Leonardo Costaneto