“A escrita do memorial constitui uma operação situada na interface do biográfico, do social e do institucional. A vida da pesquisa é, antes de tudo, alimentada pelo envolvimento do pesquisador, que é trabalhado e atravessado no cotidiano por seus objetos de pesquisa. Na área das ciências sociais, e essa dimensão revela-se decisiva nos trabalhos de Maria Amália Cunha, a dinâmica de pesquisa impregna a vida do pesquisador, ritmando, assim, quase cada dia da existência. Esses processos silenciosos vividos em primeira pessoa têm um destino: produzir-se no interior dos mundos acadêmicos e da esfera do social, graças à escrita, que tem entre suas funções contribuir para a edificação dos conhecimentos no mundo da vida. Para processar-se, essa socialização dos trabalhos do pesquisador supõe uma organização, um ritual que participe do reconhecimento, da difusão e da passagem. Então, a instituição desempenha, plenamente, seu papel ao criar as condições daquilo que pertence ao iniciático, ao rito de passagem: organizar a prova para que os trabalhos do pesquisador sejam reunidos, colocados sob um regime de sentido e situados em uma história; criar o acontecimento que permita a recepção e o diálogo em torno da obra constituída; tornar possível a inscrição da obra e a afiliação do pesquisador no seio da comunidade científica. O memorial apresentado por Maria Amália Cunha integra esses diferentes processos, pensa-os a partir das condições de realização dessas operações antropoformativas, abre perspectivas de pesquisa para pensar suas dinâmicas. O futuro é assim aberto para cooperações interdisciplinares e internacionais.”
Hervé Breton
Université de Tours, France
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