De onde vem a voz dos contos de Dom Fabrone? A que panoramas mentais ela responde, instigada a sair do “nada” em que se encontra no início? Ser atingido por seus contos implica se conectar com a indeterminação dessas questões. Implica ser envolvido pela estranheza com que sua voz se desenrola neles. E pela forma abrupta como ela se interrompe, a cada página. Porque a anomalia desses contos não se situa nas situações vividas ou refletidas, que nunca chegam a ser surreais. Ela se situa num modo de raciocinar que transforma situações – comuns ou incomuns – em pequenos orifícios na malha cerrada do cotidiano. Prontos a reter indefinidamente aqueles que olham para eles. “Somos todos feitos de carne, osso, fibras e aquela coisa gelatinosa e esquisita que tem entre os ossos, a carne e as fibras da rabada”, diz Dom Fabrone a certa altura. A voz de seus contos toca o tempo todo essa geleia.
Bruno Domingues Machado
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