Um cataclisma na catequese. Uma cisma com o que se convencionou chamar de Deus. Um abalo sísmico no que é aceitável, higiênico. Desconcertar parece ser o imperativo da poesia de Valdeck Almeida neste livro, onde a pregação é sobre o que o corpo preconiza. A sexualidade sai do julgo de um Deus em seu trono celestial, a vigiar os “pecados”. É dado o recado: recriemos essas ideias que engendram amarguras, traumas e medos. “Vou fazer a tábua dos meus mandamentos e os violarei também”, vaticina o poeta, cujo verso almeja avidez, ainda que hajam tantos vivos-mortos, em cotidianos insípidos. E por falar em vida, a própria trajetória de Valdeck é versada. A criança que trabalhou cedo, e que cedo precisou cuidar da mãe, submerge no adulto que, hoje, vivencia sua liberdade. Ou, ao menos, busca. O menino e o homem coexistem nessas narrativas. Estão brincando de fazer, com as palavras, cataclismas.
Lucas de Matos
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