Em A invenção do desejo, a poeta Ana Beatriz Rangel olha para o céu para perscrutar os enigmas da vida na Terra. Em sua segunda coletânea de poemas, ela investiga os variados corpos da experiência mística. São místicas (no sentido de “mistas”), também, suas referências: na busca pelo êxtase espiritual, a autora se nutre do cristianismo, da mitologia grega, das religiões afro-brasileiras. A vontade de redenção percorre muitas destas páginas, mas logo descobrimos que “só se salva quem monta o desejo”. O erotismo não é algo de que se possa abrir mão, e a Via Crúcis pode muito bem ser “de plumas e carícias”. Pois o “eu” que fala nestes poemas está longe de ser imaterial. É uma voz de mulher (bad feminist?), vivendo num espaço e tempo bastante concretos: o Rio de Janeiro, agora. Entre a alma e o corpo, o que resta? A linguagem. Em versos livres, curtos e cortantes, que não abandonaram o viés pop de seu livro de estreia, Beatriz sabe que a linguagem também tem sua porção de mistério. Nela algo sempre se eclipsa, seja porque há “uma língua ininteligível / atravessando o corredor”, uma palavra intraduzível ou a constatação de que “nascer é um desentendimento”.
Juliana Vaz
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