Penetrar, surdamente, no reino das palavras é, neste belo e fulgurante livro de Katia Chaves Romano, a tradução da imperativa e sublime lição do mestre Carlos Drummond de Andrade ao nosso tempo. Sem esse despojamento, esse desnudar-se diante da palavra, não há contato, a figura, como queria Roland Barthes, mais recorrente do discurso amoroso. O leitor está, assim, diante de palavras e de suas inflexões, um rol quase infinito de miudezas que deixam vislumbrar, amorosamente, o corpo poético. Os textos preciosos da escritora, como as contas de um colar, traduzem o enredamento do sujeito que, preso, se revela amado e amante, desejado e desejante. As palavras em liberdade não se enfileiram. Daí a necessidade de se criar vínculos e gavinhas para prender e, de repente, nesse espaço estreito feito de luz e de sombra, deixar entrever pequenos segredos íntimos, joias do cotidiano. Elucidar o enigma desses poemas, dessas pequenas contas, é, para o leitor cativo, deixar-se seduzir mais e mais na armadilha da escritura, no ir e vir da memória. A voz poética, nesse sentido, é sereia e esfinge. Decifrar ou ser devorado! Um convite irrecusável! A bela fera, na voz poética, está sempre à espreita na linguagem, por isso, as confissões e os desejos revelados são redes, fios que, como as aparentemente ingênuas “contas para um colar”, conformam a poesia.
Lyslei Nascimento
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