O autor escreve como quem caminha entre pessoas numa grande avenida movimentada. Sem dar bom dia, numa atmosfera da vida infestada de parasitas que voam, o autor serve um café nada filosófico, que é tomado puro pelas personagens numa metalinguagem, de quem aproveita o dia com um latim e um excesso de conforto e de quem foi feito para o trabalho de carpir um terreno inútil. As inquietas leitoras e os leitores instáveis enxergarão as sutilezas mesmo na conveniência frustrada ou aprazível de entrar numa loja onde o produto vendido é a violência. Ao passear pelas diversas ruas de sardas, podemos sentir o cheiro de gente, tatear corpos e almas, dispostos a fazer conjecturas sobre a psicanálise da infância, das mães, dos amigos imprescindíveis ao desejo e do corno que se vê diante de si mesmo. Em suma, é um livro para nós desajustados, que vem para romper com o destino do rebanho, uma mera ironia do tempo ou, quem sabe, não mais que um sonho mudo num mundo sujo.
Júlio Bonatti
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