Roteiro

Ele iria olhá-la em silêncio, ela iria até ele.
Ela inclinaria a cabeça, abrindo-lhe a boca.
Ele sentiria seu hálito quente e lhe esbarraria os lábios no caminho de alcançar seu pescoço.
Lhe beijaria a parábola desde o lóbulo esquerdo, até a esquina de seus ombros, sentindo sua pele aveludada.
Ela ofegante, fecharia os olhos. Suas mãos, que teriam pousado na cintura dele, descobririam um espaço entre o cós da calça e a camisa de malha branca, e atingiria levemente com a ponta dos dedos suas costas.
E passearia sem rumo em toda a extensão da coluna.
Ele gentilmente deslocaria a alça de seu vestido, descobrindo-lhe o colo.
Seus seios descobertos mostrariam o arrepio de sua pele. Como em uma espécie de resposta a este movimento, ele a beijaria até o ventre. Mas antes, reteria por um momento seus dentes em suas aréolas.
Ela inclinaria seu corpo e encontraria a cama abrindo-lhe os joelhos e cedendo-lhe passagem. Enquanto ele tiraria a roupa, ela se deitaria de costas, e ele dedicaria desenhar em suas tatuagens, novos horizontes com a ponta dos dedos, arrepiando-a de forma felina.
Ele provaria-lhe seu sabor.
Ela lhe ofereceria a nuca, ele responderia em beijos.
Ele encontraria espaço entre suas coxas macias e afundaria seus dedos, mergulhando nela.
Ele a deteria por um instante sob seu peso nu.
Ela responderia em alto e bom som.
Ele a seguraria pelos quadris aumentando a amplitude dos movimentos, e intensidade do encontro dos corpos.
Desta vez, era ela quem o detinha entre as pernas. Ele esticaria seus braços na intenção de tocá-la feito nuvem.
Eles se fundiriam por um instante, sem conseguir discernir o limite dos seus corpos.
Depois do êxtase, deitariam em preguiça entre carícias de ponta de dedos e vento soprado delicadamente na pele. Adormeceriam, saciados e famintos.
Não conseguiriam sair dos metros quadrados do colchão.
Anoiteceria, e a luz da lua avançaria sobre o quarto através da janela entreaberta. Estariam absortos em preguiça no transitar do espaço onírico e da realidade. Para qual despertariam apenas para coar um bom café e ririam entre olhares do pequeno banquete que dedicariam um ao outro.

Bárbara Breder Machado é natural de Nova Friburgo, RJ, mas reside em Campos dos Goytacazes, RJ. É psicanalista e professora do departamento de psicologia da Universidade Federal Fluminense. Dedica-se ao estudo de temas da psicanálise articulada ao campo da política. Tem interesse pelos temas capazes de transformar a realidade, como a clínica, feminismo e amor. É autora das obras Cartas de amor entre ruínas (2022) e Política e Psicanálise: (des)encontros entre Lacan e Foucault (2023), ambas publicadas pela Caravana.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.