Vivemos em infelizes tempos de regras moralizantes, quase sempre nascidas nas redes sociais — que afetam até mesmo a literatura, pelo menos a mais comercial. Padronização artística na era do cancelamento, pasteurização literária, retidão textual dos cursos de escrita. Sem curvar-se a tendências e modismos, Trajano segue a sua verve e cria histórias com um senso estético inabalável. Amor e calamidade traz diálogos de mãe e filha às voltas com o retorno do marido/pai que abandonou a família para viver com uma mulher mais jovem. Aliados à poética seca e à prosa mimética da autora, o tema é facilmente identificável por legiões de pessoas que vivem ou vivenciaram situação semelhante. Um romance que encanta e aflige devido a tanta crueza, com vozes que poderiam ser as nossas. “A vida como ela é”, como já disse um autor das antigas, também mestre em desvelar verdades por trás das máscaras.
Fabiano Queiroz
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